domingo, 5 de junho de 2011

Intelectuais da Periferia - Rappers




No início dos anos 1990, a forte influência do discurso intelectualizado dos grupos de RAP estadunidenses e o contato com o movimento negro levaram os rappers paulistanos a incorporar alguns símbolos da luta afro-americana pelos direitos civis (Leia: ANDRADE, E. N. de. RAP e Educação, RAP é Educação. São Paulo, Hummus, 1999.).

Em decorrência disso, os rappers passaram a ler biografias dos principais líderes afro-americanos com o intuito de conhecer a história da diáspora africana para as Américas e, principalmente, as especificidades do racismo brasileiro. A estratégia centrava-se na obtenção do entendimento e conhecimento dos problemas sociais e étnicos para fundamentar as ações e as canções RAP. (Leia: SILVA, J. C. G. da. Arte e educação: a experiência do hip hop paulistano. In: RAP e Educação, RAP é Educação. São Paulo, Hummus, 1999. pp. 23-38.)

Assim, as representações étnicas, religiosas, das classes sociais e da violência urbana das canções encontravam referências nas experiências cotidianas e intelectuais dos jovens produtores de RAP.

Diante desse cenário, pode-se pensar o RAP como um espaço de disputas, caracterizado não só por mudanças e transformações, como também por resistências e permanências. Além disso, é possível observar como se deu o processo de simulação de força que transformou o RAP numa tática lingüística eficiente para driblar os contratos e alterar, através do jogo poético, as regras de um espaço opressor. (Ideia inspirada em CERTEAU, M. Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.)

Nesse sentido, o RAP foi o efeito colateral do sistema opressor que não dava espaço para expressão do descontentamento por parte dos jovens de periferia. O RAP virou uma válvula de escape, ou seja, uma forma de expor o que, pelas vias "cidadãs", não podia ser dito.


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