terça-feira, 20 de julho de 2010

ESPORTE E CULTURA EMBAIXO DA PONTE

Por: João Batista Soares de Carvalho

Há pouco mais de um ano abriu aqui no extremo da Zona Leste uma filial do projeto social Cora-Garrido. Esse projeto ocupa um espaço embaixo de um viaduto, no cruzamento das Avenidas Jacú-Pessego com Imperador, na Vila Jacuí.



Eu estive lá e conversei com Carlos, um pugilista amador que cuida do ambiente, recepcionando as pessoas que querem usar os aparelhos de ginásticas e consultar os livros presentes nas poucas prateleiras existentes nesse espaço.



Carlos me apresentou as mudanças e os novos aparelhos. Falou sobre a necessidade de melhorar a pequena biblioteca e até chegou a ensaiar alguns golpes de boxe contra um pneu de caminhão pendurado no centro da academia.




A história desse projeto começou há mais de uma década, um ex-pugilista Nilson Garrido, passou a ensinar boxe para moradores de rua e ex-presidiários no Vale do Anhangabaú. A ação, apoiada pela sua esposa Cora, cresceu e, com a ajuda de doadores, Garrido criou uma academia de boxe embaixo do Viaduto do Café, na Bela Vista (ou Bixiga). Usava a carcaça de uma geladeira e pneus velhos de caminhão. Seus colaboradores consertavam os aparelhos de ginásticas doados pelas pessoas.



Garrido queria ainda aliar o esporte à cultura. Para isso, construiu, no próprio espaço, um ambiente com livros para que as pessoas, usuárias da academia e outros visitantes do local, pudessem ter acesso a leitura.



Como a experiência foi vitoriosa o boxeador resolveu replicá-la. Buscou outros viadutos para poder ampliar sua ação e atender mais pessoas. Hoje cresceu tanto que virou um projeto social reconhecido internacionalmente e atende centenas de pessoas mensalmente. A sede do projeto social Cora-Garrido se encontra atualmente no Viaduto Alcântara Machado, na Moóca.



Aqui na Vila Jacuí, na Zona Leste, o projeto está deslanchando. Há pouco mais de um ano, quando eu visitei o espaço pela primeira vez, eram poucos os equipamentos dispostos em um piso irregular de chão batido. Havia a intenção de montar uma pequena biblioteca com alguns livros que Nelson Garrido havia trazido do centro da cidade. Hoje, o espaço esta um pouco mais arrumado, graças às doações das pessoas. O chão do ambiente de ginástica já não é mais de terra e o número de aparelhos triplicou.



No que diz respeito ao projeto de biblioteca, as doações foram inúmeras, a ponto dos livros não caberem mais nas poucas estantes. Esse ambiente precisa ser melhorado. Faltam estantes e esse espaço ainda tem o chão de terra que carece de ser cimentado.



A pequena biblioteca comunitária que está nascendo precisa de sua ajuda.

domingo, 11 de julho de 2010

Copa do Mundo – distorceram o hino Waving Flag de K’naan.

A Copa do Mundo que termina hoje provou que o futebol é extremamente eficiente na dissolução de tensões e conflitos sociais. É um balde de água fria em um braseiro. O que, no início, parecia ser um evento que lembraria as atrocidades cometidas durante o regime do apartheid, que mostraria um país (África do Sul) e um continente (África)de uma forma nunca vistos antes, se dissolveu assim que a bola rolou.

Observei, durante esses dias de jogos, a distorção marqueteira de um lindo hino de libertação “Waving Flag” criada pelo cantor somali K’naan.
Veja a letra original como é linda e revolucionária:



K’naan se juntou a outros cantores para fazer uma campanha em favor dos flagelados do Haiti e já havia transformado a letra de Waving flag para esse evento, mas foi por uma boa causa. Veja o vídeo abaixo.



As primeiras versões falam sobre libertação dos jugos da exploração econômica, da miséria, resultante dessa exploração, a que estão subjugados milhões de jovens no mundo. A batalha pela sobrevivência, pela comida, pela dignidade marca essa letra. Além disso, é uma canção de esperança na medida em que projeta no futuro a transformação dessa dura realidade.

A ideia entortou quando a coca-cola comprou a música e a transformou numa exaltação a sei lá o que com o nome de Celebration. Essa letra da coca-cola fala sobre alegria em ver todas as nações cantando pela juventude, sobre ver os campeões em campo. Comparando as versões, as ruas, na primeira versão, era um local de luta e miséria que ensinava um jovem pobre toda sorte de artimanhas para a sobrevivência. Já na versão da coca-cola, as ruas estão fervendo, as pessoas perdem a inibição e celebram.

Devo ressaltar que o cantor K’naan vendeu sua música, porém, do original, conseguiu manter o revolucionário refrão: "Quando eu ficar mais velho eu serei mais forte, eles me chamarão de liberdade, como uma bandeira ondulando..."

A música ficou pior ainda quando a banda brasileira Skank criou outra versão que jogou a ultima pá de areia em qualquer discurso de libertação. Uma letra esdruxula que faz menções a lances de uma partida de futebol (“gol de placa, de trivela, no cantinho”?) esvazia completamente o conteúdo da música. Aqui no Brasil não sobrou nem o refrão. Esse vídeo nem merece um link nesse blog.

Eu comentava na tarde do show de abertura que a Rede Globo nunca tinha mostrado tantos negros como agora. Mas, ironicamente, chegaram as finais desse campeonato nações que no passado foram responsáveis por grandes atrocidades contra os africanos e os não-brancos em geral: Holanda, a grande colonizadora da África do Sul; Alemanha, responsável pelo regime que mais pregou o ódio contra os diferentes – nazismo; Espanha, nação escravista histórica.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Derrota da Seleção Brasileira – Tristes, mas nem tanto.


De onde posso observar as pessoas não pareceram muito tristes com a derrota da Seleção Brasileira de Futebol na última sexta-feira. Mesmo antes de o jogo acabar a rapaziada já estava soltando pipas. Para alguns daqui mais vale um céu com um bom vento do que noventa minutos na frente da televisão. Quando o jogo acabou, quem estava assistindo voltou normalmente as ruas, a diversão continuou. Alguns até resolveram gastar os rojões. E ninguém tirou o churrasco da brasa.

Será que a favela começou a perceber que se a seleção ganhar ou não a vida não muda por aqui?

Pensei que o povo ia se revoltar, ficar cabisbaixo. Nada disso, no outro dia de manhã a molecada já corria, eufórica, atrás de uma bola no campinho da vila. E na segunda-feira a fila do ônibus já estava de novo dobrando a esquina. As contas não pararam de chegar.


O Brasil já foi campeão do mundial cinco vezes e isso não transformou em nada a vida das pessoas mais pobres. Principalmente porque o que muda de fato a vida das pessoas é o aumento da renda.
Como diz um colega meu: “O que vira memo pra nóis daqui é aumentá as de cem!”